Pequeno?

Sempre que escuto alguém falando “Esse mundo é pequeno”, como minha vó me disse inúmeras vezes quando encontrava alguma amiga de infância no mercado. Eu nunca entendia realmente essa frase. O mundo não é pequeno, nem um pouco pequeno. Talvez o bairro seja pequeno, ou até a cidade, mas o mundo? Acho que minha vó falava por ser o mundo que ela conhecia, as pessoas falam isso pelo seu próprio conhecimento de universo. Esse é o problema, quando falamos isso, perdemos a dimensão da diversidade.

É bizarro como sempre damos como conhecimento completo o que vivemos e passamos, muitas vezes esquecemos da variedade que ainda existe. Algo que sempre me assustou é que apenas 5% do oceano foi explorado, ainda existe 95% do mar com os seres mais estranhos e incríveis para serem descobertos. Por isso, eu nunca descartei o fato de sereias existirem e ninguém pode me provar o contrário.

Quando vou num lugar alto, no topo de uma trilha, eu sempre guardo alguns minutos apenas para olhar para frente, ver até onde eu consigo enxergar. Assim, pelo menos na minha cabeça, meu conhecimento de mundo aumenta. Nessas horas que me sinto tão pequena. Sabe, aquele sentimento “se eu morresse, não faria diferença”. Não acho isso um sentimento ruim, nem estou falando desses dramas que ninguém sentiria minha falta. Falo no sentido geral, o planeta Terra continuaria a girar em volta do Sol, as ondas continuariam batendo na areia da praia.

Esses momentos que me deixam fascinada pelo mundo. A complexidade e detalhes das coisas me fascinam. Cada centímetro é único e diferente em sua maneira. A essência de cada canto do planeta é diferente, é inovadora. Perceber como que o Universo é independente, e que, nós, seres humanos, apenas pegamos emprestado uma área para sobreviver. Bem provável que seria melhor para o planeta, caso não habitássemos aqui. Todos os animais, fungos e bactérias iriam seguir em paz com suas vidas.

São mais de 12.713,5032 km de diâmetro da Terra, 8 milhões de espécies de seres vivos e 6 bilhões de pessoas. Centenas de religiões, cultura e costumes dos mais variados possíveis, bilhões de luzes sendo apagadas nas noites por diferentes pessoas. Não pode existir um padrão numa situação dessa. Isso porque não entrei no assunto do tamanho do Universo, talvez daria um livro só falando sobre isso. Então, desculpa discordar com a senhora, mas não vó, o mundo não é pequeno. A sua concepção de mundo é que é pequena.

Quem eu sou?

Asian monk lighting incense in temple

Recentemente, perguntaram-me “Quem você é? ”. Quando ouvi, pensei que essa era a pergunta mais idiota do mundo, como assim quem eu sou? Eu sou eu, não? Não tem muito o que pensar, já que sou eu mesma desde que nasci. Então, parei alguns dias para refletir sobre isso. Essa é a pergunta que respondia desde a velha época do Orkut. A mesma que perguntam em entrevistas de emprego, talvez por isso ninguém tenha me contratado ainda. Eu não eu quem eu sou.

No fundo, eu não conheço os meus próprios detalhes e auras. Eu, em constante mudança, não consigo nem decidir qual minha cor preferida. Não sei a diferença da minha risada entre uma piada boa e uma ruim. Não sei o tom da minha pele quando o sol da manhã reflete no meu rosto. Não sei o cheiro que o xampu deixa no meu cabelo, como também não sei o modo que ando dentro de uma sala de aula.

Eu não sei ao certo o que quero fazer na minha vida. Se quero escrever, atuar, cantar, dançar, correr ou até pular de um precipício. Não sei para o que fui designada a fazer nessa vida. Ou se na minha última reencarnação eu tenha apenas escolhido não fazer nada nessa de agora. Talvez tenha tirado essa vida de folga, ou talvez eu tenha um milhão de coisas para fazer e ainda não descobri o que são.

Nunca gostei de me limitar a pequenas coisas e rótulos. Não gosto de dar nomes a nenhuma ação na minha vida. São apenas ações. O mundo é tão grande para eu querer ter certeza de algo. Sempre me deixei livre para pensar o que quisesse, e se por acaso, amanhã passasse a pensar o oposto, tudo bem. Uma das frases que sempre achei incríveis na filosofia é o famoso “Só sei que nada sei” de Sócrates. Pois, eu realmente não sei de nada.

Não sei quem eu sou, posso afirmar isso. Não sei se amanhã vou acordar querer mudar de faculdade. Ou passar apenas a assistir filmes em preto e branco, ou deixar de ser vegetariana. Porque eu não tinha certeza quando tinha 15 anos, também não tenho certeza agora e sei que não vou ter aos 25 anos. Acho que essa é a graça da vida, ter prazer na incerteza. Esperar o inesperado a cada dia. Impedir que tudo caia numa mesma rotina que mais de 2 bilhões de pessoas acompanham.

Quem sabe um dia eu descubra quem eu sou numa meditação profunda em algum templo na Índia. Ou alguém me conte quem eu sou sentada num bar de esquina com cerveja barata. Ou eu receba uma carta anônima em outro idioma desconhecido pelo google tradutor e leve 5 anos para desvendar o tal mistério. Até lá, eu não quero ter certeza de nada. Porque é essa incerteza que move o mundo.

-gioh

Ou…

Eu sou indecisa. Ou era. Tudo que precisava de uma decisão minha, de imediata ou demorada, era sempre um grande sofrimento. Ou é. Desde coisas bobas à decisões que podem mudar minha vida pra sempre. Como que alguém teve a coragem de me perguntar aos 15 anos o que eu queria fazer pro resto da vida??? E se eu escolher medicina, e depois perceber que queria ser artista de circo? Se eu escolher direito e ficar entendiada nos tribunais? Acabei escolhendo jornalismo, até porque eu poderia trabalhar escrevendo, ou sendo repórter, ou sendo assessora de imprensa, ou passando fome.

Ir para uma praça de alimentação é o terror da minha vida. Alguém já percebeu que é apenas muita coisa pra cabeça e estômago de uma pessoa só? E quando você decide o restaurante, eles te dão um cardápio: COM MAIS MIL OPÇÕES POSSÍVEIS. Eu queria muito ser aquela pessoa que pensa “Ah, eu gosto disso, foi pedir isso sempre”, apenas não consigo, começo a enjoar, a pensar em outras possibilidades e nesse momento, já parei de falar de comida e passei para relacionamentos amorosos e amigáveis.

E se eu começar a namorar e não quiser mais no dia seguinte? Não vai mais afetar só a mim, como quando peço sorvete de chocolate e depois penso que queria de limão, vou estar mudando o percurso de outra pessoa. Eu ainda tomo decisões com “Salamê Minguê”, não me deem mais responsabilidades agora.

Eu tenho três opções de caminhos para a faculdade quando desço do ônibus, desde o momento em que entro no veículo, já vou pensando em qual dos caminhos vou pegar naquele dia. Eu entro numa crise sobre não saber qual vai ser melhor e mais rápido, então quando desço, vejo um possível aluno e sigo ele, assim ele decide qual caminho é melhor por mim.

Quando vou escutar uma música, apenas coloco no aleatório, porque nunca sei ao certo qual música eu quero escutar. Talvez meu celular me conheça melhor. Não consigo postar uma foto sem antes perguntar para as pessoas, e se elas ficam dividas, simplesmente piro e não posto nenhuma. Nunca me peça para escolher um filme na netflix, pois vamos apenas ficar olhando todas as opções e encher “minha lista” com mais 15 filmes.

Eu fiquei pensando num final que fosse surpreendente, que mandasse alguma mensagem, ou que fosse engraçado, ou que fosse triste, ou que deixasse você refletindo por mais uma semana. Porém, hoje estou num dos meus dias de crise e não posso decidir, imaginem um final que vocês gostariam, aposto que ele é bom. Ou não.

GIOH

O Karma de Joana

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Descendo a rua da faculdade, estava Joana. Fazia artes na faculdade, sempre foi apaixonada pelo passado, o que conseguiam fazer com pouca informação e recursos a impressionava, mesmo que escutasse a história 20 vezes seguidas. As esculturas de Michelangelo tiravam seu fôlego, poderia pássaro o dia inteiro só observando os detalhes esculpidos na mármore. Desejava ter nascido naquela época, mas fica feliz por ter nascido na mesma época que Marcelo.

Eles não tinham nada a ver, mas eram amigos. Secretamente, Marcelo era apaixonado por Joana, mesmo sabendo que não iria acontecer. Ele poderia passar 3 fins de semana, observando o céu e falando sobre Joana. Cada detalhe, cada sorriso e cada sonho. Tudo sobre ela o fascinava, do mesmo jeito que Michelangelo a fascinava. Quando ela começava a falar sobre as esculturas, ele observava os seus detalhes e pensava em quanto tempo Deus deve ter gastado para esculpir o nariz perfeito dela.

Joana estava indo em direção ao bar que ficava no fim da rua, não era nenhum bar legal, a cerveja só era barata. Marcelo estava do outro lado da rua, pensou em esperar um pouco, apenas para observá-la distraída, uma das melhores horas. O cabelo sempre bagunçado, ela se recusava a pentear de manhã cedo, estava sem sutiã, provavelmente com a primeira camisa que viu e uma calça jeans. Brincava com os dedos pelas gotas que a bebida gelada tinha feito no copo por alguma reação química que não conseguiu decorar nas aulas do ensino médio.

Era engraçado que o mundo a achava incrível, era quase impossível alguém passar por ali sem olhar duas vezes. Ela não se acostumava com isso, sempre pergunta se tem algo sujo no seu rosto ou na roupa. As pessoas só não estão acostumadas a verem a pureza de sua beleza. Talvez seja por isso que ela não se apaixone, sempre teve todos apaixonados por ela. Ou melhor, pelo seu rosto, seu corpo, seu cabelo, suas roupas.

Joana já havia quebrado três mil e duzentos corações ao longo de seus 22 anos. No começo sentia-se culpada, por não corresponder ao “amor” que lhe davam. Até que percebeu que não era amor, isso nem existia, sempre foi pelo seu rosto, nunca pelas suas piadas ruins, ou poemas que não rimam, ou pelo seu filme preferido, ou pelo seu amor por sorvete, ou por qualquer coisa que não envolvesse sua aparência.

Alguns nem sabiam qual era seu pintor favorito, outros fingiam que gostavam e até armavam possíveis conversas para terem alguma chance. Isso foi esgotando. Marcelo entendia isso, acompanhou tudo isso de perto, queria poder gritar e dizer que enxergava além de tudo, mas no fim, ele sabia que era só pela beleza também, o resto foi só complemento.

Joana o avistou do outro lado da rua, sorriu e o chamou para beber junto. Ela estava tão feliz, falava sobre estilo românico e época medieval, ou era sobre pudim de leite? Marcelo já tinha parado de escutar, tinha se perdido no sorriso, nos ombros, no jeito em que ela mexia a mão, na mecha de cabelo que voava toda vez que passava um carro. Depois pensava que ela sempre iria passar por isso, talvez a beleza não fosse uma qualidade, e sim um carma que ela precisa carregar. Ninguém a escuta, ninguém sabe o que ela pensa, ninguém sabe o que ela quer ouvir ou sentir, apenas sabem a última foto que ela postou no instagram.

Expectativas para 2025

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Início de janeiro, aquele calor infernal, que todos fingem amar durante o final das férias, só para ir todo dia à praia antes de voltar ao trabalho. Vim andando para casa com algumas amigas depois de um dia na praia, riamos de qualquer piada ruim que uma de nós tinha contado, a areia estava em lugares indesejáveis, mas seguíamos andando. Éramos jovens, porém, estávamos nos sentindo adultas. Fazia três anos que a escola tinha acabado, cada dia que passava o peso de continuar sem emprego era maior.

Como sempre, começamos a falar do passado, dos dias na escola, dos almoços para o simulado, das piadinhas dos professores, dos amores de 2 semanas da sala de aula, o quanto éramos idiotas, não que tenha mudado muito. Comecei a pensar como que eu me imaginava três anos depois, completamente diferente de como estou.

Achava que já estaria no emprego dos meus sonhos, ou pelo menos encaminhando para ele. Estaria pelo menos no backstage de algum programa de tv ou rádio, quando na verdade, estou trabalhando de recepcionista durante um tempo para conseguir algum dinheiro. Ainda não consegui nem tirar minha carteira de motorista, meus pais ainda me tratam como se eu tivesse 12 anos e não fiz nem 10% do que tanto queria.

Minhas amigas estão pelo mesmo caminho, algumas largaram a faculdade e descobriram que seu sonho era tocar violão no bar ruim da esquina, ou pintar quadros, ou fazer qualquer outra faculdade que não tinha nada a ver com a de início. Outras estão completamente perdidas, não sabem o que gostam de fazer, ou no que são boas.

Esse é o mistério da vida. Você nunca vai saber o que vai acontecer. Seu sonho de hoje, pode ser o pesadelo de amanhã. Suas vontades antigas podem parecer tão bobas no futuro. A realidade é que todo mundo está um pouco perdido. Mesmo o seu amigo que o pai é empresário, já ganhou um carro e está com emprego garantido para o resto da vida, pode ter certeza que ele também tem suas inseguranças quando vai dormir.

Então, minhas amigas perguntaram a clássica pergunta de início de ano: “Quais são suas expectativas para esse ano? ”. Honestamente, não faço a menor ideia. Isso não me incomoda nem um pouco. Não sei se vou continuar amando o jornalismo, ou se vou querer virar professora. Tão pouco sei se vou conseguir um emprego, ou se vou ter que continuar sendo recepcionista por um tempo. Somos tão novos para termos tanto peso em cima da nossa cabeça. Então, eu não faço a menor ideia de quais são as minhas expectativas para 2017, ou 2018, ou 2025 e estou ótima com isso.

Gioh

Quem sou eu?

Sim, estou sendo egoísta. Não por acaso, não por um erro, não por uma coincidência desastrosa que o universo planejou. Eu estou escolhendo pensar em mim, talvez pela primeira vez na vida. Não exatamente em mim, mas na minha sanidade mental. Você já se divertiu tanto plantando mil e duas ideias ruins, ou então não estava nem se divertindo, porém, sua negatividade é tão forte que corrói tudo que está por perto.

Eu ia andando ao teu lado, como alguém que se deixa guiar pela maresia. Andava totalmente sem rumo, sendo arrastada para todo universo depressivo que você construiu. Tua relação comigo era abusiva, não me batia, mas me atingia como um soco no estômago. Engraçado lembrar que esses dias eu estava até estranhando, estava tudo calmo, tudo tranquilo, nenhum furacão a vista. Então, você veio como quem derrubava inimigos na linha de fogo de uma guerra. Você veio destruindo todos os ideais e todas as esperanças.

Queria poder dizer, sinceramente, para você me perdoar por ter te feito tão infeliz, quem sabe alguns anos atrás eu não teria falado isso? Finalmente, percebi que eu não sou o problema. Minha vida não pode ser resumida ao seus desastres. Entretanto, ainda tenho medo. Quem sou eu, se não a pessoa que carrega teus anseios? O que vou fazer se não acordar na agonia de saber se está tudo bem ou não? Eu não sei o que sou sem teus desastres. Esse é o problema. Acabei me aderindo ao inferno diário que tu cria.

A lista

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É tão complicado como estamos sempre acordando e trabalhando, mas esquecendo de viver. Tanto peso que carregamos, tantas vezes que ficamos chateados do nada, sem motivo algum. Apenas no meio da caminhada bate uma tristeza e um vazio tão profundo que até o verde da árvore some.

A verdade é que estamos esgotados. Esgotados de tanta brutalidade no mundo, de ligarmos a tv e só assistirmos notícias ruins, amigos morrendo, parentes ficando doentes, crianças passando fome, mulheres sendo estupradas, homens sendo assassinados, famílias sendo destruídas. Tudo isso tornou-se parte do dia a dia, tornou-se comum. Isso esgota. Suga toda a esperança que ainda guardávamos no nosso baú de criança.

Tente reparar, está tão difícil encontrar alguém puramente feliz. As crueldades do mundo estão acabando conosco. Quando paro por alguns minutos para tomar um chá e refletir, sempre vem mil notícias ruins na minha cabeça, arrancando qualquer porcentagem de alegria que ousasse em se expor. O mundo está cruel demais para pessoas positivas.

Durante alguma viagem aleatória de ônibus (melhor lugar para se refletir sobre qualquer coisa) comecei a pensar em diversas atrocidades que ouvi antes das 10 da manhã. Eu fiquei arrasada antes mesmo de chegar em casa, foi quando comecei a me obrigar a pensar em coisas boas, não importava o quão bobas elas eram. Comecei a listar.

  • Meu cabelo cheirava tão bem, tinha acabado de mudar de shampoo.
  • A menina da recepção me deu um Bom dia tão sincero e com um grande sorriso.
  • Minha priminha ganhou medalhas na competição de natação que ela fez.
  • Minha outra prima tão novinha decidiu cortar o cabelo e doá-lo.
  • Estou me alimentando 100% melhor do que 3 semanas atrás (só comia congelados)
  • Revi vários amigos que não via há muito tempo, ri tanto que minha costela ainda dói.
  • Conversei com alguém tão amorzinho que me disse coisas encorajadoras que pretendo guardar pro resto da vida.
  • Visitei minha avó e assistimos “Vídeo Cassetadas” juntas.
  • Comi sorvete com brownie
  • Aprendi a fazer brownie no micro-ondas
  • Escutei uma música com uma energia tão boa, que no final estava sorrindo.
  • Estou aprendendo a tocar ukulele
  • Me elogiaram e não teve nada a ver com aparência
  • Alguém disse que fui influenciadora na visão que tinha sobre a luta contra o machismo, homofobia e racismo
  • Descobri meu novo sabor de chá preferido
  • Conversei com pessoas novas na faculdade
  • Lembrei de comprar o chocolate que meu irmão gosta
  • Minha mãe conseguiu algo que estava tentando há meses
  • Meu novo quarto tem vista linda para montanhas
  • Achei uma ilustração fofinha e quis colocar como imagem desse texto

A lista continua crescendo, todos os dias tento escrever o máximo de coisas boas. Tentem se rodear de energias boas, esqueçam de fofocas e qualquer outra coisa ruim. Tirem um tempinho do seu dia apenas para focar em você, no seu estado mental e em bondade. Façam sua lista! Nada que você colocar nela será bobo ou não válido, apenas pensem no que te fez feliz.

Gioh

 

Pode ficar calmo.

Ele não tem diploma da melhor faculdade, não tem o emprego mais desejado do mundo, não vai deixar uma herança que me fará brigar com meu irmão na justiça, é estressado, o tom normal de voz parece que está gritando puto da vida, não tem muita paciência. Odeia todas as músicas que escuto, ainda mais quando invento de cantar, já disse que eu nunca serviria para dançar (não protestei) e se irrita toda vez em que eu tropeço na rua, ou perco a atenção de alguma conversa e peço para ele me explicar de novo.

Mas amigo, você não faz ideia de tudo que ele já me ensinou. Mesmo estressado pelo trabalho e problemas da rua, sempre riu das minhas piadas idiotas. Aprendi a assistir o canal do boi e de pescaria, porque “é a única coisa boa na tv”, graças a isso, eu sei quais rios são os melhores para pegar um Tambaqui ou um Tucunaré. Aliás, ele me levou para pescar, mas disse que eu não iria mais, porque eu falo demais e minha agitação afastou os peixes, por isso ele voltou para casa com um único peixinho e eu que peguei… Nesse dia, ele me ensinou a pescar, e também, com um olhar distante e dramático, que na vida você quase nunca volta com o esperado pra casa, mas o importante é persistir em algo que gosta. Descobri que ele gosta bastante de peixe.

Como disse, meu pai não fez faculdade, ele teve que trabalhar muito cedo. Não pela família ser pobre, eles até tinham uma condição tranquila, mas por “tradição”. A família é portuguesa, tinham uma padaria, ele precisava acordar antes das 5 da manhã pra poder preparar tudo e ajudar o pai o dia inteiro. Eu simplesmente amo ouvir as histórias! Ele chegava de festas (ELE DIZ DISCOTECA, GENTE!!!!) dormia 20 minutos e já acordava para o trabalho, pois era um compromisso, não podia deixar de fazer. Ele me fala isso toda vez que quero faltar aula.

Ele não me ensinou só essas lições de morais não. Ensinou-me a atirar com uma espingarda de chumbinho (Aliás, em caso de apocalipse zumbi, juntem-se a mim, minha mira é extraordinária), a pintar uma casa inteira, a montar e desmontar qualquer armário, a trocar lâmpada, a trocar chuveiro, a consertar qualquer coisa sem precisar pagar alguém para fazer. Tentou me ensinar a cozinhar, mas depois de comer umas 3 vezes arroz sem sal e ter queimado ovos cozidos, ele me fez desistir. Também me trouxe paixão por esportes, filmes de ação e Star Wars (obrigada!).

Recentemente, tive que passar um mês sem ele. Foi tudo tão estranho, como se o mundo não estivesse girando direito. Sentia falta de tudo. A casa estava tão silenciosa sem ele gritando sobre qualquer coisa. A pessoa que tinha me ensinado tanto, rido tanto, que fazia trilhas loucas comigo no domingo de manhã estava vulnerável, com medo de ir embora, medo de ficar sozinho.

Na primeira visita que fui fazer quando ele estava internado, confundi o horário que o hospital permitia, cheguei uma hora atrasada. Quando entrei sorrindo e fazendo palhaçada, ele estava chorando. Meu coração nunca doeu tanto. O homem forte, que sempre estava rindo, apesar de todos acharem que ele tem cara de mau, estava chorando. Ele achou que não iríamos na visita, naquele momento, eu só queria tirá-lo de lá, só queria que ele ficasse bom logo. Demorou algumas semanas, ele voltou para casa, foi o dia mais feliz da minha vida quando pude tirar ele de lá.

Esses dias perguntei o motivo dele não me ensinar a dirigir, em tom de piada, disse que era para eu não sumir de casa. Percebi que era um fundo de verdade, vivo dizendo que sonho em sair pelo mundo, ele ainda não percebeu que eu só tenho 3 reais no bolso. Pode ficar calmo, pai.

o que é feminismo?

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A maioria das pessoas não sabem o que é feminismo. Um movimento social imenso e muitas pessoas ainda não sabem o que é, ou pelo menos, não entendem certamente. Já conversei com diversas pessoas sobre isso e o que mais escuto é “Ah, eu não sou feminista não, só acho que as mulheres deveriam ter os mesmos direitos que os homens”, então, uma novidade para você: isso é feminismo.

As mulheres têm medo de se denominarem feministas. É o medo da palavra, ou melhor dizendo, é o medo sobre o que os outros vão achar sobre essa palavra. Existem alguns tipos de opiniões que as mulheres possuem sobre isso. Primeiro, acham que o feminismo é só o radical, apenas aquelas que esfregam absorvente em banheiro, sem nem pensar que quem vai limpar é uma mulher mais pobre, o famoso falso feminismo. Segundo, não entendem o movimento, acham que é a versão feminina do machismo, um gênero sobre o outro, quando na verdade, feminismo é sobre igualdade. Terceiro, até entendem, mas não querem ser mal vistas pelos homens, esse para mim é o pior.

Quero desmentir alguns fatos que escuto e leio bastante. O feminismo não te obriga a deixar de se depilar, ou usar maquiagem, ou ser vaidosa, ele só luta para que mulheres tenham o direito de querer ou não ser assim, sem julgamentos. NÃO, O FEMINISMO NÃO ODEIA HOMENS! Parem com isso de que toda feminista odeia homens, somos contra o machismo, a acharem que o sexo masculino é superior. O movimento luta pela questão de escolha e direitos iguais.

Você pode ser uma dona de casa, que não trabalha, tem filhos, faz a janta do seu marido e ainda assim ser feminista, desde que isso seja uma escolha sua, que não esteja fazendo isso porque acha que é sua obrigação. Como você pode trabalhar fora, não ter filhos e nem marido, ser totalmente independente, são questões de escolha. Eu quero ter a escolha de ficar ou sair de casa, sem julgamentos, sem ódio, sem fazer nada por obrigação.

Todos precisam entender que o feminismo não quer forçar ninguém a nada, ele só quer dar o direito da escolha. Dentro do feminismo existem diversos “quadros”, específicos para cada mulher. Pois quando mulheres brancas estavam lutando para terem o direito de voto, as mulheres negras ainda lutavam para serem reconhecidas como cidadãs. Até hoje mulheres transexuais lutam para serem reconhecidas como mulheres. Ou seja, existem muitos subtítulos por trás o grande nome feminismo. Não julgue algo pelo extremo, todo movimento tem seu radical, entenda ele por completo para discutir sobre.

 

Como falei no texto, percebi que muitas pessoas ainda não entendem esse movimento, comentei sobre o básico, então, quero usar um espaço aqui no blog para falar mais sobre isso. O feminismo é muito extenso, sei que muitas pessoas possuem bastante dúvidas e quero tentar ajudar o máximo que posso. Quem tiver alguma dúvida, sugestão ou crítica (CONSTRUTIVA) podem deixar nos comentários, ou me mandar um email: zombiefashionsociety@gmail.com

-G.F

Saída de Emergência


Muitas vezes tudo o que precisamos é uma escapatória. Das críticas, dos falsos elogios, dos problemas familiares, das preocupações com o futuro, dos sonhos frustrados, das risadas forçadas, das conversas fúteis e da própria mente. Deveríamos ter um botão de “Saída de Emergência”, simplesmente clicaríamos e fugiríamos para bem longe, para qualquer lugar tranquilo e com uma boa música.

Imaginem só quantas pessoas iriam escapar da depressão com isso. Apenas um tempo para si mesmo, assim do nada, a um clique de distância. Sempre fiquei pensando em qual poder eu escolheria ter, provavelmente o de teletransporte, desaparecer pra qualquer lugar bem longe das complicações diárias.

Não temos medo das decisões que tomamos, mas sim, do modo que elas irão fluir. Ninguém tem medo de decidir terminar um namoro, e sim de como a outra pessoa irá reagir. Ninguém tem medo de fazer uma prova, e sim de como as pessoas irão encará-la. Ou até de como sua própria mente irá interpretar aquela situação.

Já tem tanta gente chata e fútil no mundo, que não faz sentindo não gostar de ficar sozinho um pouco. As pessoas precisam aprender a se valorizar. Valorize sua própria companhia, pare de se auto criticar o tempo todo, já existe a sociedade para fazer isso. Curta sua própria voz, sua própria risada, sua mente. É impossível você tirar um tempo de si mesmo, então, aprenda a se gostar mais.

É muita gente pra te criticar, é muita gente para jogar mil anseios na sua vida. Por mais que não exista uma saída de emergência, crie seu próprio mundo. Se isole uma vez por semana, se permita pensar em nada. Sua escapatória desse mundo é você mesmo.